Design+fotografia+comunicação, tudo de forma participativa, com comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, rurais…

Comecei a editar publicações indígenas por volta de 2002-2003. Tenho muitas histórias pra contar sobre isso, mas indo direto ao ponto onde quero chegar, logo nas primeiras publicações já comecei a me questionar sobre algo que, depois, me levaria a desenvolver a metodologia do Design Participativo.

Eu estava editando livros de autoria indígena, mas todo o processo de design gráfico era feito sem a participação dos indígenas. Oras, se o conteúdo dos livros era de autoria indígena, coletiva, construído de forma participativa, não era justo que o projeto gráfico também fosse? Que a capa fosse produzida e aprovada pelos autores, por exemplo?

Talvez pareça óbvio que sim… e pra mim era naquela época. Ainda é. Mas o fato é que levei alguns anos pra conseguir implementar com sucesso meu primeiro projeto de Design Participativo, provavelmente devido a um mix de ‘muita inovação’ com ‘isso não dá certo’.

Nos anos que se seguiram, continuei trabalhando com livros indígenas e comecei a investir em uma pesquisa pessoal sobre a relação de comunidades indígenas com os livros. Certa vez, no Oiapoque, conversando com o diretor da escola indígena da Aldeia Kumarumã, dos índios Galibi-Marworno, perguntei como era a relação dos alunos e professores indígenas com os livros didáticos. Ele me respondeu dando como exemplo o exercício de um livro de matemática básica, fornecido pelo Ministério da Educação. Era algo assim:

“No estacionamento de um shopping, existem 200 vagas para carros e 50 vagas para motos….”

Nem precisou continuar… Ou seja, como esperar que o livro seja consumido, lido, estudado e assimilado, por alunos e professores, se eles não se identificam com a forma e conteúdo?

Foi a partir de questões como estas que desenvolvi a metodologia do Design Participativo.

Como designer de livros indígenas, sempre me questionei se era realmente funcional levar um livro para uma comunidade indígena e esperar que ela o consumisse, de fato. O mesmo questionamento aplica-se a cartilhas, banners didáticos, cartazes… e vale também para comunidades extrativistas, agricultores, ribeirinhos, quilombolas e demais comunidades que são público-alvo de materiais de comunicação como estes.

Pesquisando sobre este assunto, estudando e consultando a opinião de indígenas, comunitários, amigos, antropólogos, acadêmicos e técnicos cheguei a um método de desenvolvimento de projetos gráficos que envolve a comunidade-alvo em seu processo. Este método serve, hoje, para qualquer material de comunicação que envolva linguagens visuais, como livros, cartazes, folders, fotografias, vídeos, materiais digitais etc. O objetivo é gerar maior identificação da comunidade com a mensagem e a comunicação, independente do formato.

Este é o conceito-base do Design Participativo: potencializar a identificação e o sentimento de apropriação de livros e outras peças gráficas de comunicação por comunidades, para que sejam realmente consumidos por este públicos e, assim, tornem-se, de fato, úteis.

A metodologia consiste em encontros, reuniões, oficinas, onde levantamos as principais características das comunidades, estudamos referências e analisamos as etapas de criação e desenvolvimento de peças gráficas. Tudo de forma participativa. Como costumo dizer, um cardápio de decisões é proposto ao grupo para que eles decidam as características do projeto gráfico e implementem características da comunidade. Estas características podem vir em formas, cores, elementos gráficos e imagens criadas pela própria comunidade.

A produção e seleção de imagens é parte importante neste processo, pois elas vão compor o conteúdo, ilustrando e comunicando. Mais do que os textos, as imagens devem gerar identificação da comunidade com o projeto. Por exemplo, não é nada funcional criar uma publicação para uma comunidade indígena utilizando desenhos de índios parecidos com o Papa Capim, da Turma da Mônica. Eles não se vêem dessa forma.

Por fim, para quem investe em projetos editoriais ou de comunicação, destinados a comunidades, um dos grandes trunfos do Design Participativo é a otimização de recursos. Uma vez que o projeto teve êxito pela apropriação da comunidade, ele se aproxima de atingir seu objetivo de comunicação e, consequentemente, tem maior aproveitamento dos recursos investidos.

Ainda, em uma etapa posterior, o ideal é proporcionar atividades utilização destas publicações pelas comunidades para que, além da identificação, sejam criados, conjuntamente, métodos de utilização. Muitos professores de comunidades sentem essa necessidade.

Hoje, aplico o Design Participativo de forma muito mais ampla. Indo além do livro e alcançando todos os materiais de comunicação, impressos, digitais e audiovisuais. Indo além das comunidades indígenas e chegando a extrativistas, quilombolas, agricultores, garimpeiros, grupos organizados de periferia e tantos outros.

Tenho ainda muitas histórias pra contar e muitos projetos pra mostrar. Entre em contato para conversarmos!

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