Por uma feliz coincidência, encontrei hoje uma matéria (de 2011) sobre um dos trabalhos mais prazerosos, instigantes e desafiadores que já realizei.
Trata-se do projeto do livro Me Ikwy Tekje Ri – Isto Pertence ao Meu Povo, de autoria do cacique Krôhôkrenhum, o Capitão, dos índios Gavião Parkatejê. Veja o projeto em meu portfólio.
Com este projeto, tive a oportunidade de implementar de forma ampla o método de trabalho que desenvolvi aos longo de anos trabalhando com povos indígenas e que batizei de:
Design Participativo Indígena
Trata-se, resumidamente, de um processo de design que leva para dentro da aldeia indígena todas as tomadas de decisão relativas ao projeto gráfico, envolve a comunidade indígena e, com isso, potencializa o sentimento de pertencimento do produto pelo povo indígena (neste caso, um livro).
Este projeto a que me referi, foi o mais expressivo de todos os que já consegui implementar, pois trouxe os resultados mais marcantes e aparentes.
Foi realizada não só uma grande festa de lançamento, mas celebrações anuais do lançamento do livro após um ano, dois anos… Além da nítida apropriação da publicação pelos Gavião Parkatejê e consequente transmissão dos relatos do livro entre as gerações (que é o objetivo maior e principal do projeto).
Coletei depoimentos maravilhosos ao final do meu trabalho, o que me garantiu ainda mais os resultados positivos. Por exemplo:
“A qualquer momento vou estar com o livro em casa, não vou desgrudar dele, sempre lendo, lendo. A gente vai aprender mais ainda quando este livro aparecer porque a gente vai conhecer a nossa cultura lendo. A gente sabe um pouco porque os velhos dizem… aquilo pode, aquilo não pode… mas a gente vai começar a ter certeza, porque aqui o Capitão não tá só contando a história dele, mas também da cultura Parkatêjê, quais a regras, os resguardos… e isso a gente viveu junto com ele, a gente ouviu ele contando essas histórias.” Jõprãmre
“A gente vai poder dizer para os nossos filhos ‘eu participei deste livro’. Este livro aqui, do Capitão, eu ajudei a montar, eu participei dessa história, eu ouvi o capitão contar essa história, tem um desenho meu dentro deste livro. Meus filhos vão poder conhecer quem foi o capitão e o que ele fez pela gente.” Xôkrãnãreitikan
Considero que o Design Participativo Indígena é uma excelente ferramenta para garantir resultados positivos para investimentos em publicações direcionadas a públicos indígenas. Afinal, fazer design também é olhar para soluções que garantam o retorno do investimento.
Gui Noronha